Data de Publicação: 11 de dezembro de 2020 12:27:00
A Câmara dos Deputados da Argentina aprovou na manhã desta sexta-feira (11) um projeto de lei que permite acesso livre e legal ao aborto até a 14ª semana de gestação, texto que ainda passará pelo Senado, para debate e votação.
A iniciativa, apresentada pelo governo do presidente Alberto Fernández, recebeu 131 votos a favor e 117 contra. Já seis parlamentares se abstiveram em uma sessão que durou 20 horas, e que aconteceu enquanto grupos defensores e opositores ao projeto se manifestavam no entorno do Congresso, localizado em Buenos Aires.
Atualmente, na Argentina, só é permitido abortar legalmente, se a mulher tiver sofrido abuso sexual ou correr o risco de morrer.
O projeto, inclusive, autoriza a objeção de consciência pelos médicos que não desejarem realizar aborto, mas desde que encaminhem as pacientes com agilidade para outros profissionais que possam assumir o procedimento.
"Garantir a assistência e o acompanhamento de todas as mulheres e gestantes que decidem interromper sua gravidez é entender que este é fundamentalmente um problema de saúde pública", disse a deputada governista Cecilia Moreau.
Na campanha eleitoral, Fernández já havia manifestado a defesa da legalização da prática, garantindo que se reduzirão os abortos clandestinos, que colocam a vida das mulheres em risco.
Controvérsia nos partidos
A aprovação do projeto na Câmara dos Deputados acontece dois anos depois que a casa aprovou um texto similar, com 129 votos favoráveis, mas que acabou sendo posteriormente derrubado pelos senadores do país.
O novo projeto, contudo, pode ter dificuldades em avançar no Senado, que tem perfil mais conservador, mesmo com o governo tendo maioria absoluta, já que os principais grupos políticos da Argentina estão divididos.
"O aborto é a clara emergência da falta de educação, das oportunidades, das desigualdades e da violência contra as mulheres. Ao invés de resolver as causas, propomos que permaneça na esfera privada resolver o problema, a oferecendo como única solução tirar a vida do filho", criticou Graciela Camaño, do bloco Consenso Federal.
Já a deputada Silvia Ginocchio, da Frente de Todos, que forma a base governista, considerou que, para acabar com a clandestinidade, é necessário avançar com políticas de prevenção e educação sexual em todo o país.
Reação do governo
A ministra de Mulheres, Gêneros e Diversidade da Nação, Elizabeth Gómez Alcorta, garantiu hoje, pouco depois da aprovação na Câmara, que o voto favorável para a Lei do Aborto é um passo fundamental para a Argentina.
"Um reconhecimento na longa luta que vem levando adiante os movimentos de mulheres", garantiu a integrante do gabinete de Fernández, que lembrou o cumprimento de uma promessa de campanha.
"Nunca mais uma mulher ou uma grávida deve ser obrigada a realizar um aborto clandestino e colocar sua vida ou saúde em risco; mas, ao mesmo tempo, nenhuma mulher deve ser colocada na situação de tomar a decisão de fazer um aborto por causa de seu estado de vulnerabilidade econômica ou social", completou Gómez Alcorta.
Ainda será definida a data que o projeto começará a tramitar no Senado, o que pode acontecer ainda antes do fim deste ano.
Fonte:EFE
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