Data de Publicação: 20 de janeiro de 2023 10:48:00 Estado se comprometeu em regularizar o fornecimento de transporte fluvial este ano. Avó de alunos abriu um espaço no quintal de casa para que professores deem aula.
Há cinco anos, crianças e adolescentes que moram em áreas ribeirinha de Porto Velho não entram na sala de aula de uma escola. O problema acontece devido à falta de transporte fluvial, que leva os estudantes de suas respectivas comunidades, até as escolas.
Com o retorno das aulas previsto para o dia 6 de fevereiro, segundo o Governo de Rondônia, os moradores relatam sentir incerteza quanto à regularização do serviço.
Maria de Fátima Batista, de 59 anos, acompanha de perto a situação e as consequências da falta do transporte fluvial, já que é moradora da comunidade Terra Firme, no Baixo Madeira. Ela viu a angústia de seus três netos de 12, 14 e 17 anos, que estão sem ir à escola há anos.
“Por falta de acesso à escola durante mais de 3 anos, [alguns alunos] não tem mais vontade de estudar, alguns casaram, outros foram embora, outros não sabem se querem ainda estudar. Mas ainda tem alguns alunos que aguardam esse transporte para continuar seus estudos”, disse.
Avó de alunos improvisa sala de aula no quintal de casa para que netos não fiquem sem estudar em Porto Velho — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Ao observar a situação, Maria cedeu um espaço da sua casa para os encontros quinzenais dos professores com os alunos. Além de abrir as portas de sua casa, Maria também paga a internet para ajudar os professores e alunos.
“Faço a merenda tanto dos professores quanto dos alunos, por minha própria conta, sem receber nada em troca, justamente para eles manterem a aula quando eles vão de 15 em 15 dias”, contou.
Mesmo assim, a moradora diz que o local não é confortável comparado com uma sala de aula.
Maria faz a merenda escolar para todos os alunos e professores que frequentam às aulas na comunidade Terra Firme — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Além dos alunos, os professores também encontram desafios para chegar até as comunidades.
Terra Firme é uma comunidade longe do distrito de São Carlos e para chegar até o local, os professores navegam por horas no rio Madeira e quando chegam, precisam enfrentar longas escadas.
Professores enfrentam longas escadas e horas de viagem no rio Madeira para chegar até a comunidade e dar as aulas — Foto: Reprodução/Redes Sociais
“Sonham muito em ser alguma coisa”
Os netos de Maria estão ansiosos para voltar à sala de aula: “Eles sonham muito em ser ‘alguma coisa’ com os estudos, cursar uma faculdade, ter um bom emprego, poder ajudar os pais…”, revelou a avó.
Em dezembro de 2022, o Estado se comprometeu a cumprir um prazo de 60 dias para normalizar o transporte e, segundo a moradora, isso trouxe uma força para seus netos.
“Até mesmo eles já tiveram vontade de desistir de estudar, porque o sonho deles é estar dentro de sala de aula”, disse.
Mesmo com as circunstâncias, Maria tenta ter fé: “se Deus quiser esse ano vai dar tudo certo. Não só para meus netos como para os outros adolescentes das comunidades vizinhas”, sonhou.
Novela
O problema afeta as áreas ribeirinhas há anos, atingindo pelo menos 800 crianças e adolescentes que estão fora de sala de aula.
Pais e responsáveis protestam em Porto Velho, cobrando a volta do transporte escolar fluvial na Zona Rural — Foto: Reprodução/Redes sociais
Após manifestações feitas pelos pais no mês de novembro, o governo se comprometeu a regularizar o serviço no prazo de 60 dias. O Ministério Público (MP-RO) ficou responsável por fiscalizar o processo a cada 15 dias.
Na última terça-feira (17), o MP confirmou, após reunião com a Seduc, que os alunos da Zona Ribeirinha de Porto Velho não devem voltar às aulas no dia 6 de fevereiro, junto com os demais estudantes da rede pública de ensino.
Fonte: G1
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