Data de Publicação: 2 de junho de 2021 18:40:00
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) avalia a incorporação de um tratamento inovador contra a Covid-19 ao SUS. Trata-se do Regn-CoV2, um coquetel formado pelos anticorpos monoclonais casrivimabe e o indevimabe. O medicamento teve seu uso emergencial aprovado pela Anvisa no dia 20 de abril, para o tratamento de pacientes no início da infecção, que apresentam alto risco de complicações da doença.
O tratamento é de uso único, via infusão, e deve ser administrado até dez dias após o início dos sintomas. Os testes clínicos mostraram que seu uso reduz em 70% o risco de hospitalização e morte. O custo, entretanto, é elevado: cerca de 7.814 reais, segundo relatório da Conitec, sendo 6.946 reais do custo da aquisição do medicamento e mais 867 reais do custo referente à infusão. Por outro lado, o custo total estimado de uma internação em unidade de tratamento intensivo por Covid-19 é de 51.363 reais.
Economia de 76 milhões de reais por ano
Com base nestes valores, um estudo de custo-efetividade feito pela própria comissão apontou que a incorporação do coquetel poderia gerar uma economia de cerca de 76 milhões de reais por ano ao Sistema Único de Saúde, além de beneficiar o paciente. Mesmo assim, em avaliação inicial, a comissão emitiu um parecer inicial contrário à inclusão do coquetel no SUS.
Os motivos apontados pela Conitec em sua decisão foram a dificuldade de aplicação do medicamento no período indicado pelo fabricante e a fragilidade das evidências científicas fornecidas para comprovar a eficácia do tratamento. “A aplicação do medicamento traz um desafio logístico, já que a tecnologia é de uso hospitalar e deve ser aplicada nos primeiros 10 dias de infecção pelo vírus Sars-CoV-2. Assim, caso se realize o teste no terceiro dia de doença e o resultado seja comunicado em mais três dias, haveria apenas quatro dias para localizar o paciente”, disse a comissão no parecer.
Para solucionar a dificuldade logística de iniciar o tratamento no período adequado, a Roche fez uma nova proposta e ofereceu, sem custos adicionais, testes rápidos da companhia, com tecnologia capaz de diagnosticar a infecção pelo Sars-CoV-2, nome oficial do novo coronavírus, em apenas 30 minutos. Segundo Lenio Alvarenga, diretor de Acesso e Médico da Roche Farma Brasil, o teste de antígeno oferecido pode substituir o RT-PCR, com a vantagem de trazer o resultado em menos de uma hora, o que permitiria já encaminhar o paciente para o tratamento.
A oferta prevê o fornecimento de 600.000 testes. O volume foi baseado na compra de 150.000 doses do medicamento pelo Ministério da Saúde, suficiente para atender pessoas com pelo menos três fatores de risco, segundo relatório da Conitec. Dessa forma, são oferecidos 4 testes, por dose do medicamento. A quantidade segue está de acordo com a taxa de positividade de exames de Covid-19 no Brasil, que é de 25%. Dessa forma, a Roche entende que de cada 4 testes realizados, um seria positivo.
Em relação à crítica à qualidade das evidências apresentadas, Alvarenga afirma que atualmente já existem estudos sobre o medicamento publicados em plataforma pré-print e prestes a serem publicados em revista científica. O que indica que os dados são robustos e relevantes. Tanto a nova proposta, incluindo a oferta dos testes, quanto os estudos completos, foram enviados à Conitec pela consulta pública da comissão, que foi encerrada no dia 27 de maio. Espera-se um novo parecer em breve.
O tratamento já está em uso nos sistemas de saúde, incluindo a rede pública, de pelo menos oito países, como Estados Unidos, Alemanha, Itália e França. "Já está comprovado que os benefícios, tanto para o paciente quanto para a economia do sistema de saúde se sobressaem à necessidade logística da não incorporação", afirma Alvarenga.
A princípio, a Roche avalia exclusivamente a oferta do Regn-CoV2 no SUS. Ainda não há previsão para disponibilização do tratamento na rede privada.
Recomendação da FDA
Alvarenga destacou também a eficácia do Regn-CoV2 contra novas variantes. Estudos realizados em laboratório mostraram que o tratamento é eficaz contra a P.1, variante identificada em Manaus, e a B.1.617.2, cepa identificada na Índia. Na semana passada, a FDA, agência que regula medicamentos nos Estados Unidos, recomendou o uso da medicação em pacientes de risco que vivem em áreas de circulação da P.1. nos EUA. Atualmente, essa é a cepa mais prevalente no Brasil, responsável por 9 em cada 10 casos.
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