Data de Publicação: 4 de novembro de 2021 16:00:00 Pesquisa britânica publicada na 'Lancet' constatou também que vacinação diminuiu casos de lesões pré-cancerígenas. Maioria dos casos de câncer cervical é causada pelo vírus, cuja vacina, no Brasil, é oferecida no SUS.
A vacinação de meninas de 12 e 13 anos contra o HPV reduziu as taxas de câncer de colo de útero em 87% na Inglaterra, aponta um estudo inglês publicado nesta quarta-feira (3) na revista científica "The Lancet". Cerca de 90% dos casos de câncer de colo de útero são causados por uma infecção pelo HPV.
A pesquisa é resultado do acompanhamento do programa de imunização contra o vírus feito no país, que começou em 2008. Naquele ano, a vacina bivalente foi oferecida à faixa etária de 12 e 13 anos, com uma "repescagem" para adolescentes de 14 a 18 anos feita até 2010.
Os cientistas, de vários serviços de saúde pública e universidades do Reino Unido, acompanharam também os casos de câncer de colo de útero em mulheres de 20 a 30 anos na Inglaterra nesse período. Eles constataram os seguintes pontos:
Entre as mulheres que tinham recebido a vacina entre os 16 e 18 anos de idade, a redução relativa estimada nas taxas de câncer foi de 34%. Já a redução relativa das lesões pré-cancerígenas do tipo mais grave (CIN3) foi de 39% em relação à população não vacinada.
Para as que tinham recebido a vacina entre os 14 e 16 anos, a redução de casos de câncer foi de 62%; de lesões pré-cancerígenas graves, de 75%.
Nas que receberam a vacina entre os 12 e 13 anos, a redução relativa de casos de câncer foi de 87%; já as de lesões pré-cancerígenas graves foi de 97%.
"Como esperado, a vacinação contra o HPV foi mais eficaz nas coortes [populações] vacinadas com idades entre 12 e 13 anos, entre as quais a adesão foi maior e a infecção anterior menos provável", explicou Kate Soldan, uma das autoras do estudo, da Agência de Segurança de Saúde do Reino Unido.
No Brasil, a vacinação contra o HPV é feita a partir dos 9 anos de idade.
"Esperamos que esses novos resultados incentivem a aceitação, já que o sucesso do programa de vacinação depende não apenas da eficácia da vacina, mas também da proporção da população vacinada", completou Soldan, em um comunicado à imprensa divulgado pela Lancet.
Os cientistas britânicos estimaram que, em junho de 2019, havia cerca de 450 casos a menos de câncer cervical e 17.235 casos a menos de lesões pré-cancerígenas mais graves, a CIN3, na população vacinada do que o esperado. No período do estudo, 28 mil diagnósticos de câncer cervical e 300 mil diagnósticos de CIN3 foram registrados na Inglaterra.
Eles concluíram que o programa de imunização praticamente eliminou o câncer cervical em mulheres inglesas nascidas desde 1.º de setembro de 1995.
Importância da vacinação
A Inglaterra usou, até 2012, a vacina bivalente – que protege contra os dois tipos mais comuns de HPV, o 16 e o 18, responsáveis por 70% a 80% dos casos de câncer de colo de útero (também conhecido como câncer cervical).
Desde aquele ano, entretanto, o país passou a usar a vacina quadrivalente – que protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV.
“Os primeiros estudos de modelagem sugeriram que o impacto do programa de vacinação nas taxas de câncer do colo do útero seria substancial em mulheres de 20 a 29 anos até o final de 2019. Nosso novo estudo visa quantificar esse impacto inicial. O impacto observado é ainda maior do que os modelos previstos", afirmou o professor Peter Sasieni, do King's College London, autor sênior do artigo, em um comunicado à imprensa.
Os autores reconhecem algumas limitações do estudo – principalmente a de que o diagnóstico de câncer cervical é raro em mulheres jovens.
Além disso, o número de casos registrados de câncer cervical é impactado pela idade em que as mulheres são examinadas.
A maior parte do acompanhamento de mulheres nas populações vacinadas ocorreu nas que tinham menos de 25 anos – e pequenas diferenças na idade do primeiro rastreamento podem ter um grande impacto nos casos registrados de câncer cervical em mulheres abaixo dessa idade. Isso porque o objetivo do rastreamento é achar lesões pré-cancerígenas e tratá-las antes que se tornem um câncer.
Como as populações vacinadas ainda são jovens, os autores enfatizam que ainda é muito cedo para avaliar o impacto total da imunização contra o HPV nas taxas de câncer cervical.
No entanto, é importante notar que as duas infecções mais comuns por HPV contra as quais a vacina bivalente protege estão presentes em até 92% das mulheres diagnosticadas com câncer cervical antes dos 30 anos de idade.
Em um comentário publicado pela revista junto com o estudo, a pesquisadora Maggie Cruickshank, da Universidade de Aberdeen, na Escócia, que não esteve envolvida no estudo, avaliou que a conclusão do estudo deveria estimular programas de vacinação em países de baixa e média renda, onde "o problema do câncer do colo do útero é um problema de saúde pública muito maior do que aqueles com sistemas bem estabelecidos de vacinação e rastreamento".
"A questão mais importante, além da disponibilidade da vacina (relacionada aos tomadores de decisão na política de saúde), é a educação da população para aceitar a vacinação, pois o aumento da taxa de imunização é um elemento chave para o sucesso", pontuou.
A vacinação contra o HPV foi introduzida em 100 países como parte dos esforços da Organização Mundial de Saúde (OMS) para eliminar o câncer cervical. Segundo o braço da organização nas Américas, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o câncer de colo de útero é a principal causa de morte entre mulheres na América Latina e no Caribe.
No Brasil
No Brasil, meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos podem tomar a vacina quadrivalente contra o HPV gratuitamente no SUS. A vacina é dada em duas doses, com um intervalo mínimo de 6 meses, segundo o Ministério da Saúde. (Nos homens, o HPV pode causar outros tipos de câncer, como o de pênis e ânus).
Para mulheres que vivem com HIV, receberam um transplante ou têm câncer, a vacina pode ser recebida pelo SUS dos 15 aos 45 anos. Nos homens nessas populações, pode ser recebida dos 15 aos 26 anos. Nesses grupos, a recomendação é de que sejam dadas 3 doses da vacina. A vacina também é oferecida na rede particular.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que houve mais de 16,5 mil novos casos de câncer de colo de útero no Brasil em 2020, segundo dados mais recentes. O Atlas de Mortalidade por Câncer do país apontou 6.596 mortes pela doença em 2019.
O câncer de colo de útero é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina (atrás do câncer de mama e do colorretal, sem considerar o câncer de pele do tipo não melanoma), e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil – atrás do câncer de mama, do sistema respiratório e do câncer colorretal.
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