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Entenda como a crise envolvendo a Ucrânia e a Rússia pode afetar o Brasil

Data de Publicação: 22 de fevereiro de 2022 09:20:00 O impacto mais significativo seria maior pressão sobre a inflação, especialmente por causa dos preços dos combustíveis. Os principais produtos que o Brasil importa da Rússia são ligados à agricultura, especialmente fertilizantes.

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Se a Rússia de fato enviar tropas para a Ucrânia após a autorização de Vladimir Putin para a entrada de militares no país, haverá consequências indiretas para países que não estão envolvidos no conflito, mas que têm parcerias comerciais com os russos ou os ucranianos, apontam especialistas. O Brasil seria afetado principalmente por causa da economia, e o impacto mais significativo seria maior pressão sobre a inflação.

Na segunda-feira (22), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, autorizou o envio de militares russos para "manter a paz" nas regiões separatistas da Ucrânia de Donetsk e Luhansk.

O Brasil é secundário na disputa, diz Fernanda Magnotta, senior fellow do núcleo EUA do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

"No entanto, todos os países se afetam de alguma forma. E, de cara, há efeitos econômicos derivados de um conflito: o abastecimento de gás e uma alta de preço de combustíveis, por exemplo, que afetariam de forma muito significativa países como o nosso, onde o preço de combustíveis já tem sido, nos últimos meses, o responsável por pressão inflacionária", aponta a especialista.

Em entrevista à GloboNews, José Márcio Camargo, economista chefe da Opus Investimentos, afirma que no ano passado o petróleo já teve um aumento de mais de 40%, e que, além disso, haveria um choque nos preços de alimentos.

Os principais produtos que o Brasil importa da Rússia são ligados à agricultura, especialmente fertilizantes. Na tabela abaixo, estão os cinco itens que o país mais comprou dos russos em 2021, em valores. Apenas um, hulha betuminosa (um tipo de carvão mineral), não é usado no solo para preparação para o plantio.

Produtos que o Brasil mais importa da Rússia*

  • Outros cloretos de potássio
  • 1,35 bilhão
  • Diidrogeno-ortofosfato de amônio (fosfato monoamônico ou monoamoniacal), mesmo misturado com hidrogeno-ortofosfato de diamônio (fosfato diamônico ou diamoniacal)
  • 862 milhões
  • Ureia, mesmo em solução aquosa, com teor de nitrogênio (azoto) superior a 45 %, em peso, calculado sobre o produto anidro no estado seco
  • 508 milhões
  • Hulha betuminosa, não aglomerada
  • 411 milhões
  • Nitrato de amônio, mesmo em solução aquosa
  • 377 milhões
  • *Dados de 2021, em dólares
 

Fonte: Comex

Magnotta afirma que o Brasil é muito dependente da Rússia em relação a esses insumos, e uma operação militar na Europa teria efeito direto em relação ao abastecimento de adubo e fertilizantes. "Já há algum desabastecimento em geral na economia por causa da pandemia, e no contexto de guerra isso seria agravado", aponta.

Produtos mais exportados do Brasil para a Rússia*

  • Soja, mesmo triturada, exceto para semeadura
  • 343.286.654,00
  • Pedaços e miudezas, comestíveis de galos/galinhas, congelados
  • 167.164.904,00
  • Café não torrado, não descafeinado, em grão
  • 132.723.847,00
  • Amendoins descascados, mesmo triturados
  • 129.731.662,00
  • Outros açúcares de cana
  • 124.262.859,00
  • *Dados de 2021, em dólares
 

Fonte: Comex

 

Consequências de política externa

 

O Brasil pleiteou o apoio dos Estados Unidos para se tornar um membro extra-regional da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). No conflito, o governo russo pede o fim da política expansionista da Otan e que a organização se comprometa a não instalar armas de ataque perto de suas fronteiras.

Caso houvesse um conflito militar, o país seria cobrado pelas potências em relação ao seu posicionamento —ou seja, seria forçado a assumir um lado.

"Isso implica tomar decisões em relação a quem desagradar: de um lado o Brasil é parte da aliança ocidental e há a tentativa de se chegar a um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia já há uma longa data, e do outro, a China tem sinalizado uma aproximação com a Rússia", afirma Magnotta.

Viagem de Bolsonaro

Ainda que não haja um agravamento da situação na Rússia, no Brasil já há algumas consequências políticas, segundo Magnotta. Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro (PL) viajou à Rússia e encontrou-se com Putin no dia 16 de fevereiro.

Na ocasião, o governo russo dizia que estava retirando suas tropas. Rapidamente, aliados do presidente brasileiro divulgaram a retirada das tropas como se o brasileiro tivesse alguma relação com isso. "A base governista vai se apropriando de fatos que não têm relação nenhuma com o Brasil para falar que o Bolsonaro pode ter papéis em coisas nas quais ele não está inserido", afirma ela.

fonte: G1

 

 

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