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'Água de quiabo': veja mitos e verdades sobre receita que vem ganhando popularidade nas redes

Data de Publicação: 2 de fevereiro de 2023 19:50:00 Spoiler: não há evidências científicas de que o consumo desse líquido de consistência viscosa ajude no tratamento de pacientes com diabetes ou auxilie no emagrecimento.

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Uma receita simples vem se tornando popular entre influenciadores de conteúdo na internet: pedaços de quiabo deixados imersos num recipiente com água durante a noite ou por cerca de 24 horas.

Os resultados prometidos para quem bebe esse líquido de consistência viscosa variam, mas vão desde o emagrecimento até o controle do diabetes. Mas, afinal de contas, será que tomar essa água "diferentona" faz mal ou traz mesmo algum benefício?

Veja abaixo o que é mito e o que, de fato, contribui para a saúde, de acordo com os especialistas.

Ajuda no controle da diabetes: MITO ?

NÃO há evidências científicas de que beber essa "água de quiabo" ajude no tratamento de pacientes com diabetes. Pelo contrário.

Em um guia sobre alimentação, o Ministério da Saúde explica que essa crença se tornou popular a partir da divulgação de um experimento de estudantes do ensino médio sobre o tema em 2013, que mostrou uma certa associação da receita na redução da glicemia, ou seja, a quantidade de glicose no sangue.

O problema é que, até o momento, não existem resultados que comprovem este chamado efeito hipoglicemiante, de redução do nível de açúcar.

A nutricionista Lara Natacci, mestre e doutora pela Faculdade de Medicina da USP, ressalta que no experimento dos estudantes, que foi baseado em um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) feito com camundongos, somente um grupo pequeno de voluntários foi examinado.

Além disso, todas as 8 pessoas que participaram da pesquisa durante três meses não interromperam o tratamento com remédios de diabetes enquanto tomavam diariamente a água com a mucilagem, a "baba do quiabo".

Na época da divulgação da pesquisa, a Sociedade Brasileira de Diabetes chegou até a emitir um alerta sobre os riscos de interrupção do tratamento medicamentoso, especialmente para as pessoas portadoras de diabetes em uso de insulina.

"Isso não substitui medicamento de forma alguma. Fazer isso pode ser até muito prejudicial para a saúde. Não faz mal a gente consumir, mas é importante a pessoa [que tem diabetes] ter em mente que precisa continuar seu tratamento, e não será a 'água de quiabo' que vai diminuir a glicemia", diz Natacci

No guia sobre os mitos da alimentação, o Ministério da Saúde explica ainda que estudos experimentais, em animais, mostraram até mesmo uma certa interação entre as fibras solúveis presentes no quiabo e a metformina, um antidiabético muito utilizado no tratamento de pacientes com diabetes mellitus tipo II.

Embora mais pesquisas necessitem ser feitas, se comprovada, essa associação poderia até prejudicar a ação do remédio. Justamente por causa dessa falta de resultados científicos, a pasta defende que o diabetes é melhor tratado com medicamentos, mudanças específicas na dieta e atividade física regular orientada por um profissional de saúde.

"O que baixa a glicemia é tomar os medicamentos de forma correta, ter um estilo de vida equilibrado, comer de forma saudável e consumir bastante fibras", acrescenta Nattaci.

Tem propriedades nutricionais: VERDADE, MAS... ?

A associação da "água do quiabo" com esse mito de que a receita ajuda no controle da diabetes está relacionado ao fato de que esse é um alimento rico em fibras solúveis.

E as fibras solúveis contribuem para a estabilização da glicemia e do colesterol, mas, como alerta a doutora em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP Maria Fernanda Barca, NADA substitui o tratamento medicamentoso desses pacientes.

Os riscos de interrupção do tratamento são imensos. [O paciente pode ter um] descompasso geral do quadro de diabetes, como uma piora renal, piora da visão (visão borrada), excesso de urina, desidratação e, no caso das pessoas que tomam insulina, até mesmo coma.

— Maria Fernanda Barca, doutora em endocrinologia

Além disso, como ressalta o Ministério da Saúde, as fibras estão presentes não apenas no quiabo, mas também em frutas, verduras, legumes, cereais integrais e feijões.

Um estudo de 2006 da Unicamp, por exemplo, mostrou que 100g de quiabo possuem cerca de 4,6g de fibras. Já os mesmos 100g de feijão carioca têm mais do que o triplo de fibras.

"Se deixar de um dia para outro, [a água] vai ter até alguns nutrientes do quiabo, principalmente vitaminas e antioxidantes. Mas é melhor comer o quiabo mesmo, porque ele tem esses nutrientes, além das fibras", acrescenta Natacci.

Ajuda no emagrecimento: MITO ?

— Foto: PEXELS

O doutor Fabiano Lago, médico endocrinologista em Curitiba, explica que não há nenhuma evidência de que a receita ajude no emagrecimento.

Ela ressalta que, como os nutrientes que ficam na água são mínimos, os benefícios se assemelham a tomar um copo de água normal.

"O grande risco disso é superestimar as qualidades da água", diz. "E o que as pessoas precisam entender é que não existe um alimento em específico ou um chá, uma água que vai fazer emagrecer. É o contexto geral que influencia isso, como a prática de exercícios, um acompanhamento médico, etc.".

Cura cinomose e parvovirose: MITO ?

Nem a "água de quiabo" nem o suco do fruto tem propriedades do tipo.

Como mostrou o FATO ou FAKE, essa é uma desinformação que vem circulando há tempos nas redes sociais, mas essas doenças, que acometem principalmente cãezinhos não vacinados, precisam de acompanhamento médico veterinário visto que são de difícil tratamento.

"Essas doenças são de alta morbidade, mas, ainda assim, tratáveis. No entanto, não pelo quiabo", afirmou a época a professora aposentada do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (FMV-USP) Mitika Hagiwara.

 

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