Data de Publicação: 23 de fevereiro de 2023 11:54:00 Um terceiro paciente soropositivo para o HIV foi curado após realizar um transplante de células-tronco. O caso está documentado em um estudo publicado nesta segunda-feira (20) na revista Nature Medicine. Foto: REUTERS/Antony Njuguna
Um terceiro paciente soropositivo para o HIV foi curado após realizar um transplante de células-tronco. O caso está documentado em um estudo publicado nesta segunda-feira (20) na revista Nature Medicine. “Estamos frente a uma situação excepcional”, destaca à RFI o virologista Asier Sáez-Cirion, um dos autores da pesquisa. Antes do caso deste "paciente de Düsseldorf" (Alemanha Ocidental), outros dois pacientes com HIV já haviam conseguido ser curados, o primeiro deles em Berlim, em 2009, e o segundo em Londres, em 2019. De acordo com o consórcio internacional IciStem, esse terceiro paciente havia recebido um transplante de células-tronco como parte do tratamento para leucemia. Após a operação, ele conseguiu interromper o tratamento que fazia contra o HIV.
Suas análises médicas revelam que não haveria mais vestígios de partículas virais, reservas virais ou resposta imune contra o vírus. Os três pacientes que conseguiram a cura definitiva da Aids têm o mesmo ponto em comum: todos sofriam de câncer no sangue e por isso foram tratados com um transplante de células-tronco, o que renovou profundamente seus sistemas imunológicos. Nos três casos, o doador tinha uma rara mutação no gene CCR5, uma alteração genética que impede o HIV de entrar nas células.
"Situação excepcional"
“Estamos frente a uma situação excepcional”, declarou à RFI o virologista Asier Sáez-Cirion, um dos autores do estudo. “Porque um transplante de medula óssea é uma operação que não vai ser considerada para uma pessoa com HIV que está bem de saúde, em que o vírus é controlado com tratamento antirretroviral”, explica. “O transplante de medula óssea é cogitado para pessoas que têm leucemias, outros tipos de câncer, problemas do sistema imunológico, e que não têm alternativa terapêutica para poderem se curar. Afinal, o que se trata em um transplante de medula óssea é substituir o sistema imunológico de uma pessoa pelo de outra”, completa o cientista. No caso deste terceiro paciente, tratava-se de um homem de 53 anos que, após ser diagnosticado com infecção pelo HIV e submetido a tratamento antirretroviral, que lhe permitiu controlar a infecção, desenvolveu leucemia, precisando assim de tratamento por quimioterapia.
"Busca de alternativas terapêuticas"
Em relação a este terceiro caso, Sáez-Cirion destaca que, “em certas circunstâncias, para certas pessoas que têm patologias muito definidas, vemos que existe uma possível intervenção terapêutica que é reprodutível, pois há pelo menos três casos identificados”. No entanto, “não se pode considerar o transplante de medula para todas as pessoas que vivem com HIV, mas o que este caso faz é nos inspirar a buscar alternativas terapêuticas que possam alcançar o mesmo resultado sem ter que passar por um transplante de medula óssea.
" O virologista explica que esta é uma situação excepcional, quando todos esses fatores coincidem para que o transplante seja um duplo sucesso, tanto para a cura da leucemia, quanto para o HIV. Como menos de 1% da população normalmente se beneficia da mutação protetora do gene do HIV, poucos doadores de células-tronco a possuem. Ainda que esses casos deem aos cientistas a esperança de encontrar uma cura para a Aids, o transplante de células-tronco é um tratamento arriscado e não adaptado à situação da maioria dos pacientes com HIV.
Por Orlando Torricelli / RFI
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