Conhecida como ex-primeira dama do tráfico, Danúbia de Souza Rangel, de 34 anos, está entre os criminosos mais procurados do Estado do Rio. Ela é esposa de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, preso em 2011 e apontado pela polícia como um dos responsáveis pela guerra de traficantes na comunidade da Rocinha na disputa de pontos de venda de drogas. Segundo as investigações, Danúbia seria a responsável por levar as ordens de Nem até o atual líder da Rocinha, Rogério 157.
Em março deste ano, Danúbia deixou o Complexo Penitenciário de Bangu, na zona oeste do Rio, após ser absolvida de uma acusação de associação ao tráfico de drogas por falta de provas. No entanto, seis dias depois de ser absolvida, ela foi condenada a 28 anos de prisão em outro processo pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e corrupção ativa. Ela então passou a ser considerada foragida da Justiça. O Disque-Denúncia oferece R$ 1 mil por informações que levem à prisão de Danúbia.
De acordo com a sentença, além de pagar propina à policiais para que eles fornecessem informações sobre a movimentação de PMs na comunidade, ela passou a ocupar posição de liderança na facção criminosa que atuava na Rocinha. Danúbia ainda repassava as ordens do marido, que mesmo cumprindo pena no Presídio Federal de Porto Velho, em Rondônia, continuava controlando a facção criminosa que atuava na favela.
Apesar de estar foragida da Justiça, Danúbia gosta de se exibir nas redes sociais. Ao menos três perfis são atribuídos à mulher do traficante Nem da Rocinha. Nas fotos, ela costuma aparecer de biquíni, ostentando joias e até em clima de romance com o traficante.
Também há muitas fotos e homenagens a filha, que faleceu em decorrência de uma pneumonia em 2012. A menina é fruto de um relacionamento de Danúbia com Luiz Fernando da Silva, morto em confronto com a Polícia Militar, no Complexo de Favelas da Maré, na zona norte da cidade.
Mulheres no crime
Danúbia é apenas o exemplo mais visível do crescimento cada vez maior do envolvimento de mulheres com o tráfico de drogas. Antes de ser a primeira dama da Rocinha, ela teve um relacionamento com Luiz Fernando da Silva, o Mandioca, do Complexo da Maré. Após a morte dele, engatou um romance com o Nem da Rocinha e passou a ocupar posição de destaque na facção depois da prisão do traficante, em 2011.
— A gente nota que a trajetória mais comum é elas começarem com o relacionamento afetivo e daí migram para o tráfico — aponta Diogo Erthal, promotor do Ministério Público do Rio e um dos responsáveis pela operação Coroados II, que investiga o comércio ilegal de drogas em comunidades da zona norte da cidade e do sul do Estado.
— Os homens são cooptados desde muito novos. O principal motivo que os levam ao crime é o desejo de obter dinheiro de forma rápida, gozar dessas benesses, enquanto as mulheres geralmente se relacionam com eles e a partir disso vão ingressando na organização — explicou.
A presença de mulheres no universo do crime tem se tornado cada vez mais comum. Entre 2000 e 2014 o número de presas cresceu 567%, segundo relatório do Depen (Departamento Penitenciário Nacional). O mesmo estudo revelou que 58% das mulheres encarceradas tinham algum envolvimento com o tráfico de drogas, a principal causa de detenção.
A atuação das mulheres no crime, especialmemte no tráfico de drogas, é também uma estratégia das organizações. Esses grupos se valem da ausência de efetivo feminino nas forças de segurança pública, já que apenas policiais do sexo feminino podem revistar mulheres suspeitas. Além disso, há um consenso social de que mulheres não atuam no crime organizado, como explicou o promotor Diogo Erthal.
— Tradicionalmente as mulheres levantam menos suspeitas. Como em regra, eram os homens que faziam o transporte do tráfico de drogas, as mulheres estariam acima de qualquer suspeita. A partir disso, elas passaram a ser cooptadas para fazer esse transporte, porque a probabilidade de serem pegas era menor.
Segundo Diogo, as mulheres assumem corriqueiramente três funções nas organizações criminosas, atuando principalmente na comunicação entre o criminoso preso e a organização, transportando drogas e outros objetos para dentro das cadeias e na contabilidade do tráfico de drogas, posição que tem se tornado comum.
Danúbia Rangel então está longe de ser um caso isolado. Durante a operação Coroados II, realizada semana passada, dos 64 mandados de prisão expedidos pela Justiça, 15 estavam em nome de mulheres.
Fonte:R7